Doações para atingidos por cheia estragam em depósito, no Acre
'Incompetência da administração pública', diz moradora de Porto Acre.
Prefeito não estava na cidade, mas deve se posicionar ainda nesta quarta.
O funcionário público, Pedro Bezerra, 46 anos, procurou formalizar a denúncia no Ministério Público do Acre (MP-AC) nesta quarta-feira (24). Indignado com a situação, ele conta que recebe ameaças por causa da denúncia e que lamenta pelas pessoas que nunca chegaram a receber a ajuda necessária.
"Muitas pessoas passaram fome na beira do rio e perderam tudo, enquanto isso, a prefeitura faz esse descaso com a população. Com essa denúncia, esperamos uma resposta das autoridades, mas não adianta ele tirar esses alimentos e materiais de um local e jogar em outro, o que ele precisa fazer é distribuir para o povo carente que sofreu na alagação", destacou.
Alimentos e colchões estão armazenados em depósitos da cidade (Foto: Quésia Melo/ G1)
"A gente soube disso esses dias. Uma
pouca vergonha do prefeito, pois confiamos a ele quatro anos de gestão
pública e ele faz isso. É uma canalhice, eu defino como palhaçada.
Roubo, muito roubo", fala, indignada.A
notícia chocou a pequena cidade. Os moradores estão revoltados com a
situação como é o caso de Márcia Barbosa, que define o ato como
"incompetência da administração pública", Insatisfeita com a situação, a
moradora cobra um posicionamento do Ministério Público do Acre (MP-AC).Ao menos 160 colchões estão abandonados, mofando em um depósito da igreja. Enquanto os atingidos pela cheia, como dona Maria da Conceição, que mora com mais sete pessoas no município, não chegou a receber a doação, mesmo tendo necessidade.
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"O que a gente recebeu foram alguns itens do sacolão. Água ainda
cheguei a receber e uns dois pacotes de leite. Para a dormida, dei um
jeito, a gente conseguiu colchões com algumas doações", diz.Centenas de sacolões estão espalhados em salas da Escola Municipal Nilcen Machado da Rocha, que segundo o morador Jairo Nery, de 33 anos, está abandonada. De acordo ele, é possível ver a movimentação de carros da prefeitura saindo com alguns dos donativos, mas, segundo os moradores, não chegam à população atingida pela cheia.
"Quero que o MP tome providência, porque ele [prefeito] não deu essas coisas para quem necessitava. Tem um cadastro e era possível controlar quem realmente necessitava de doações, ele não tem que agir pela política dele não. Vejo saindo donativos e os alagados não recebem. Para onde estão indo?", questiona Nery.
Situação revoltou moradores da cidade
(Foto: Quésia Melo/ G1)
O aposentado Antônio Silva, de 64
anos, tenta achar refúgio no bom humor. "Não vi nem foto de colchão. Eu
mesmo perdi um quando a água subiu de repente e não deu para tirar. Se
tivesse recebido, teria sido bom demais", diz.(Foto: Quésia Melo/ G1)
A aposentada de 63 anos, Maria Nonata de Paula, diz que chegou a receber alguns itens de sacolão, mas diz que se sente triste ao saber que tanta coisa foi armazenada, enquanto tanta gente estava precisando. "É uma decepção, tanta gente precisando, comprando, se endividando, dando seu jeito e até agora nunca recebemos e não vamos receber", lamenta.
O G1 tentou entrar em contato com o promotor Adenilson de Souza, que responde pela promotoria Especializada de Defesa do Patrimônio Público e Fiscalização das Fundações e Entidades de Interesse Social, mas ele estava em uma audiência e não pôde atender a equipe.
O prefeito de Porto Acre, Carlos Portela, também não foi encontrado para esclarecer o fato. De acordo com assessoria, o gestor está em um ramal afastado da cidade, mas deve se posicionar ainda na tarde desta quarta-feira (24).
Entenda o caso
Em março deste ano, o Acre registrou a maior enchente já registrada no estado. Em Porto Acre, as águas subiram e chegaram a atingir 260 famílias, segundo a Prefeitura da cidade. O prefeito do município, Carlos Portela, chegou a decretar situação de emergência. Os donativos foram recolhidos durante campanhas, onde as doações foram concentradas na capital acreana e depois enviadas para os municípios atingidos pela cheia, para que os alagados pudessem ter apoio.
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